"Para além da parede" - Rui Neto




A partir dos interstícios urbanos, Rui Neto procura interpretar de forma contemporânea a expressão estética de particularidades da cidade.
Apresenta estes lugares como ponto de partida para a sua reflexão, como antítese do espaço publico pois. Segundo Klauss Bubmaner , o espaço publico só pode ser considerado como tal quando se encontra preparado para esse efeito, o que não acontece com os interstícios; estes espaços não foram desenhados para essa função.
Em Marc Augé, o não lugar é caracterizado por um espaço associado a movimentos imediatos e condicionados. Por outro lado, a forma decadente e solitária que os interstícios apresentam, marcam a impessoalidade destes locais.. O excessivo abandono destes locais anula a relação entre o lugar e a identidade do usuário.
Contudo estes lugares apresentam uma grande ambiguidade quanto ao seu uso: privado ou publico. De facto, a usual irregularidade deste espaços, bem como a impossibilidade de um percurso fluido, condiciona o uso publico como também não define completamente um domínio privado. De certa forma, estes lugares poderão ser definidos como binários pois aglomeram em simultâneo características de espaço publico e privado.
Rui Neto ao apropriar-se destes lugares para desenvolver o seu trabalho, apresenta-nos um espaço com características peculiares, que no contexto contemporâneo, poderão perfeitamente ser considerados como espaço de suporte para trabalho “site spcific”, dando assim importância ao lugar; como locais ambíguos em termos de forma e uso. Segundo Rosalyn Deutshe1 a arte publica deverá incidir sobre estas questões, e os interstícios são de facto um ponto de partida para essa reflexão critica.
Assim os interstícios lançam um novo desafio: o ponto de partida onde a arquitectura e as artes plásticas poderão assumir uma nova transmutação para a cidade.
Os desenhos de Rui Neto que apresentamos procuram a síntese entre aquilo que percepcionamos no sentido pratico do registo e a sua formulação teórica, e também de como a experiência teórica informa o sentido pratico.
Sumariamente, os trabalhos apresentados comunicam a intenção do artista, o percurso entre a obtenção fotográfica, elemento detonador do pormenor, a transcrição, representação/reinterpretação de uma lógica interna a partir do anterior e finalmente a medição, como forma de domesticar o que observamos e transpomos para o plano do desenho.
As imagens que apresentamos são a resposta a um exaustivo trabalho de mestrado, apresentado na FBAUP em Outubro 2009 com o objectivo de “(...)efectuar uma análise das estratégias de reconhecimento e representação dos espaços intersticiais urbanos através do desenho (...) como casos de estudo dois espaços intersticiais da cidade do Porto : Beco de Passos Manuel e Calçada do Leal “ (Neto, Rui, Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em: Prática e Teoria do Desenho)
Como resultado de um conjunto de utopias de diferentes origens. “È absurdo por de lado a utopia sob o pretexto de que esta existe apenas no papel. Como resposta basta lembrar que se pode dizer exactamente a mesma coisa de um projecto arquitectónico, e as casas nunca sofreram disso. (Mumford, Lewis, Historia das Utopias, Antigona, Lisboa 2007, p.30). O interstício como recuo para o ego de um utopista ou como ponto de partida de avanço para um futuro.